Análises

Análise: Sennheiser HD238

Introdução

Algo que me faz sempre muita confusão quando estou a ler criticas de equipamento áudio é o facto de o critico poder ter sempre gostos musicais muito diferentes dos meus. Não me interpretem mal, não tenho nenhum problema com isso, mas acho que estes aspectos deveriam ser evidenciados na crítica, de maneira a informar melhor os leitores para os estilos de música em que o equipamento funciona melhor. No meu caso, gosto de praticamente todos os estilos de música, com preferência para Pop ligeiro e alguma musica Clássica.

Quero também deixar claro que nunca uso qualquer tipo de equalizadores ou semelhantes, cuja única função é, na minha opinião, dar a sensação de uma melhor qualidade de som, “vitaminando” a música, alterando completamente o som original. Sendo que alguns de vocês estão sempre a falar que os equipamentos de estúdio supostamente são os melhores, porque são os que mais se aproximam daquilo que o editor ouviu, vocês ao usarem equalizadores estão a mudar isso. Um equalizador NÃO revela mais detalhe e NÃO melhora a qualidade sonora em geral. Muitos de vocês vão já dizer que apenas digo isto porque tenho um iPod e os iPod’s não têm equalizador. Mas é que eu também posso contradizer, afirmando que tenho um iPod pois não tem equalizador e revela a música “as is”, sem mais nem menos.

Para além disso, continuo a afirmar que os iPod’s têm melhores Dac’s, mas aí já estaríamos a desviar-nos muito do assunto, ainda que esta introdução se tenha desviado bastante. Para além disso quero também fazer aqui uma critica às reviews do miow, que me deixam sempre com muitas interrogações. Para mim, as reviews dele são do tipo: “o palco é ENORME!”, “os médios são muita fixes!” e “os agudos são altamente!”.

Isto, obviamente, para quem ainda percebe menos do assunto que o miow ainda é capaz de levar essa pessoa ao engano. Quanto à questão dos TD100 eu nem vou comentar muito, mas apenas digo que não acredito em nadinha do que se está passar. Para além disso já se viu que não duram absolutamente nada, portanto até podem ser melhores que uns IE8 (o que não acredito), mas se forem construídos pessimamente e durarem uns dias, obrigado mas não. Adiante…

Conforto e estrutura – os HD238 são considerados headphones portáteis e a sua estrutura evidencia tal afirmação. São bastante leves e extremamente confortáveis, mesmo durante longos períodos de tempo (usei-os na minha viagem de carro para Monte Gordo e não tive uma única queixa deles quanto ao conforto, durante toda a viagem). A estrutura aparenta ser feita totalmente em plástico, embora existam alguma áreas de metal, como os parafusos que unem as principais peças da estrutura (estes parafusos são visíveis).

O “anel” na parte exterior do “cone” dos headphones e o símbolo da Sennheiser do mesmo são igualmente feitos de metal. A construção em geral parece ser excelente (bem melhor do que estava à espera). O único ponto negativo que consigo encontrar em relação à estrutura dos headphones reside nas almofadas, que embora sejam extremamente moles, suaves e confortáveis, não dão uma grande sensação de durabilidade. A parte que realmente toca nas orelhas é feita de uma espécie de imitação de pele e a restante parte é feita de veludo (provavelmente imitação de veludo).

Cheguei a desmontar as almofadas e o sistema de montagem até me pareceu ser bastante ideal (apenas baseado no encaixe de uma peça de plástico da almofada, que dá a sua rigidez estrutural, à estrutura dos headphones em si). O interior das almofadas era feito de dois tipos de esponja: uma delas, que residia no meio, era feita de um material pouco denso, de maneira a deixar passar claramente o som para os ouvidos. A outra, que estava em maioria, é feita de um material bem mais denso e é a que dá o conforto às almofadas. Na parte superior dos headphones (a parte que toca na parte superior do crânio), existe também uma almofada, igualmente feita de imitação de pele e igualmente extremamente confortável.

Os headphones são ajustáveis em “altura” e o sistema usado é bastante seguro e aparentemente durável, o que não acontece muito com os seus grandes “irmãos”, os HD555, cujo sistema não e lá muito fixo e durável. Para terminar, falemos sobre o cabo dos HD238: à primeira vista parece ser demasiado fino, no entanto, passados uns dias começa-se a ver tem grandes pontos positivos, como por exemplo o facto de nunca se enrolar ou o facto de só “entrar”/”sair” por um dos cones, evitando mais uma vez confusões de cabos.

O “jack” é feito de uma forma que permite que mesmo quem utiliza aquelas bolsas/caixas de protecção para os seus iPod’s (como eu), entre com toda a facilidade. Na minha opinião parece-me ser demasiado comprido, o que é um problema para a utilização com aparelhos tipo o Sandisk Sansa Clip ou outros cuja entrada de auscultadores seja lateral. No entanto em iPod’s não vejo grandes problemas. Apenas me fez um pouco de confusão ao princípio.

Som:

Todos os testes e o “burn-in” feito até ao momento desta review foram feitos usando principalmente ficheiros em formato AAC, a 320kbps (CBR – Constant Bit Rate), reproduzidos através do meu iPod Touch 2G 16GB. Como seria de esperar, em FLAC o aumento na qualidade de som é bastante considerável, especialmente no que toca à sensação de espaço sonoro (palco e transparência) e no detalhe.

Volume sonoro – tenho que referir que estes headphones não são muito sensíveis, pelo que muitos dos aparelhos actualmente não seriam capazes de os “guiar” (fazê-los tocar) decentemente. O meu Touch tem um amplificador interno de 22mw (11mw por canal). Sei por acaso que o actual Sony série S tem apenas 5mw por canal. Ora, eu uso o meu Touch com estes auscultadores em quase todas as músicas (com algumas excepções, como é óbvio) a dois cliques do máximo. Vocês devem saber onde é que eu quero chegar. Mesmo assim até tocam excelentemente bem e não mostram “deficiências” na fonte (neste caso, o iPod Touch), principalmente por terem uma impedância bastante razoável (32 ohm’s) e superior à dos meus IEM’s (AKG K 321). Ainda este Verão vou ver se compro um amplificador áudio portátil. O mais provável é que será um Fiio E5. Aí verei também se o “hipe” à volta destas supostas pequenas maravilhas tem realmente uma razão de ser.

Fuga sonora – esta é provavelmente das poucas, mas também a maior crítica negativa que tenho a fazer sobre estes headphones. A quantidade de som que eles deixam escapar pelas partes exteriores dos cones é extremamente grande (perfeitamente ao nível dos HD555) e, como tal, os HD238 não são considerados muito bons para ouvir música em áreas onde exista muita gente. Tal como seria de esperar, também não “bloqueiam” muito o som do exterior, embora, estranhamente, isso não afecte quase em nada o detalhe reproduzido pelos headphones, mesmo em situações onde o barulho vindo do exterior é muito grande.

O “burn-in” – quando experimentei pela primeira vez os HD238 na Fnac fiquei muitíssimo surpreendido com a transparência e a envolvência em geral do som. Pareciam uns HD555 só que com bastante mais grave (mas igualmente ou até mais controlado) e um pouco de menos palco. Antes do “burn-in” sério (primeiras 10 horas), achei que faltava abertura no som e profundidade no grave face ao que tinha ouvido na Fnac. Só depois de dois dias seguidos a tocarem é que comecei a reparar nas melhorias. E até ao momento em que realizei esta review (aproximadamente uma semana depois) já posso dizer com confiança que são os melhores headphones portáteis que alguma vez experimentei. Acho que até posso ir mais longe e afirmar que o conjunto iPod Touch+HD238 são o melhor conjunto áudio portátil que alguma vez experimentei.

Gama baixa – os graves nestes headphones são dos mais profundos que já ouvi neste tipo de headphones. Na maioria dos IEM’s existe sempre aquela sensação de que o som é feito principalmente pelo grave, sendo que está sempre demasiado frontal, intrometendo nas outras frequências. Com headphones full size (principalmente os de formato aberto) tal não acontece e o grave está sempre lá mais como acessório, isto até porque, na minha opinião, o que faz um som é sobretudo a gama média. Nos HD238 o grave é, digamos que, quase perfeito em todo o tipo de músicas. Em Clássica estes headphones mostram talvez um nada de corpo em demasia e um grave a pender para o “cheio”, mas em todo o outro tipo de músicas os HD238 têm um grave na quantidade exactamente certa. Devo referir que nas primeiras 20 horas de utilização, a volumes muito altos, estes headphones distorcem um pouco em música com muito grave. Não é nada de muito sério, até porque depois do burn-in esta distorção desaparece completamente.

Gama média – foi nesta área que os HD238 mais me surpreenderam. A gama média nestes headphones, quando acompanhados com o meu iPod Touch é bem melhor do que quando os ouvi na Fnac. Mas não é só isso. É que sempre ouvi dizer que os Sennheiser tinham uma gama média um pouco abafada pela gama baixa. Mas é que isto não acontece! A frontalidade está basicamente “spot on” e a transparência em algumas músicas até arrepia, sobretudo em música ligeira. Vou dar-vos como exemplo um dos meus álbuns preferidos de todos os tempos: Prefab Sprout – Andromeda Heights, cuja gravação foi feita em “surround”. Com este álbum torna-se mais que evidente a envolvência das vozes e dos instrumentos. Para além disso é um CD extremamente difícil de reproduzir no que toca ao detalhe. É um álbum em que apenas se tem prazer a ouvir quando se consegue ouvir todos os detalhes, senão soa horrivelmente mal. Os HD238 conseguiram reproduzir os detalhes de uma forma que eu não achava possível em algo deste preço e até em auscultadores mais caros. Digo-vos até que estou com dificuldade em lembrar-me dos HD555 com este nível de detalhe.

Gama alta – ao contrário da gama média, a gama alta não foi surpresa nenhuma (uma critica nem má, nem boa). Os agudos são tipicamente Sennheiser: extremamente agradáveis e não muito frontais. Para algumas pessoas talvez lhes falte frontalidade, mas em geral são bons. Uma coisa que deverei apontar é que ao princípio, nas primeiras horas de utilização, os agudos eram talvez um pouco “afiados”. Passadas umas horas tudo fica resolvido, portanto, nada de preocupante.

Palco – tinha que criar uma “área” dedicada ao palco destes auscultadores. Quando comprei os HD238 fiquei em choque com a “abertura” e o palco sonoro dos mesmos, isto tendo em conta o tamanho deles. No entanto, passados uns dias digamos que cai na realidade e penso que vou retirar aquilo que eu disse acerca dos HD238 terem um palco semelhante aos HD555. Têm na realidade, um palco um pouco inferior, mas mesmo assim, um palco épico para o tamanho dos mesmos. Em música ao vivo ficou constantemente de boca aberta porque parece que tenho umas colunas enormes enfiadas nos meus ouvidos. É realmente épico para uns auscultadores deste tipo e algo que realmente não estava nada à espera.

Lá vêm os “mods” – após ter comprado os headphones, reparei num tópico no fórum da Head-Fi. Neste tópico encontrava-se um utilizador, possuidor de uns HD238, que decidiu modificar os headphones por achá-los um pouco abafados em comparação com os seus AKG K 701. Decidiu fazer várias experiencias com vários materiais no interior dos cones, entre as drivers e a grelha metálica exterior (aquela com o símbolo da Sennheiser). No link mais abaixo verão o tópico com todos os detalhes. Como eu não tinha todos aqueles materiais, decidi meter por cima das esponjas já existentes atrás das drivers, pequenas folhas de alumínio, da mesma forma que estas esponjas. A mudança no som foi imediata. As gamas média e alta ficaram muitíssimo mais frontais e o grave ficou menos pronunciado. A dinâmica aumentou consideravelmente. Ficaram, em geral, estilo a fusão de uns Sennheiser com uns AKG, resumindo-se no final a um som muitíssimo mais divertido e menos abafado.
Link: http://www.head-fi.org/forum/thread/…ew-and-modding

Conclusão:

Ainda não sei o que é que estes headphones são propriamente. Por um lado têm um som de uns headphones bem maiores, tipo uns HD555, mas por outro conseguem reter toda essa qualidade numa estrutura bem mais pequena. Existem uns quantos problemas, como a duvidosa durabilidade das almofadas e a extrema fuga sonora que pode ser um problema para quem queira usar estes auscultadores ao pé de outras pessoas, mas em geral, os HD238 são extremamente capazes no que toca à qualidade de som e são, sobretudo, uma das melhores alternativas para quem queira “fugir” do mundo dos IEM’s.

A dinâmica e a abertura do som é incomparável, pelo menos no que toca a IEM’s do mesmo preço e de valor um pouco superior. Se quiserem uns bons IEM’s têm que gastar bem mais do que se quiserem uns bons headphones. Não acredito que, pelo mesmo preço, existam uns IEM’s que sejam melhores em absolutamente tudo que uns headphones. Dito isto, reafirmo que os HD238 são uns headphones com uma relação qualidade/preço de outro mundo. Eu ainda não consigo acreditar que uns headphones deste preço e deste tamanho consigam ter uma performance deste nível. Por mim, comprem com segurança.

Pontuações e principais musicas de referência:
– Conforto – 19/20
– Qualidade de construção – 17/20
– Durabilidade – 15/20
– Experiencia na rua – 15/20
– Gama baixa – 17/20
– Gama média – 19/20
– Gama alta – 17/20
– Palco – 16/20
– Detalhe – 19/20 (Jack Johnson – Losing Keys)
– Transparência – 18/20
– Qualidade de som em geral – 18/20 (Prefab Sprout – A Prisioner Of The Past)

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