Sennheiser IE8

Nota introdutória: A utilização que dou a auscultadores do tipo in-ear é essencialmente em locais silenciosos e com movimento moderado, apenas faço uma utilização breve na rua ou transportes para determinar o seu nível de isolamento. Os meus principais in-ear que utilizo como referência são ambos da mesma marca, os Earsonics SM2 e SM3. Normalmente quem compra um novo leitor áudio portátil ou mesmo um telemóvel, encontra na embalagem o chamado earbud com a saída de som em forma de "botão". Nos modelos mais caros os típicos earbuds são substituídos por auscultadores intra-auriculares, ou "in-ears". Contudo, a performance destes in-ears deixa um pouco a desejar em relação aos modelos de nicho que são os modelos high-end. No mercado existem diversos tipos de tecnologia de transdutores que reproduzem o som do in-ear: os de driver tipo dinâmico (D), os balanced-armature (BA) e os mais recentes moving-armature (MA). O corpo do in-ear pode ser um modelo universal, ou pode ser um modelo personalizado a partir da impressão do nosso pavilhão auricular. Existem atualmente in-ear compostos por um ou dois drivers dinâmicos em cada uma das shells (corpo do in-ear), in-ears compostos por vários transdutores BA, até ao máximo atual de 8 por shell e in-ears híbridos que conjugam transdutores dinâmicos com transdutores BA. Os modelos in-ear apresentam-se no mercado a partir de poucos dólares até pouco mais de um milhar de dólares nos modelos mais caros. Os Sennheiser IE8 são um modelo do tipo driver dinâmico universal, e fazem parte do grupo com melhor performance, com um preço a variar entre os 200€ e os 300€. Sennheiser IE8 Especificações Técnicas: Sensibilidade: 125 dB/mW Resposta em frequência: 10 Hz - 20000 kHz Impedância: 16 Ω Driver: tipo Dinâmico Comprimento do cabo: 1,2 m (segmento principal: 0,8 m, segmento secundário: 0,4 m), parte V simétrica e destacável das shells. Existe a opção de um cabo mais curto de 0,8m Conector 3,5 mm: em L, prateado. THD: <0,1% Acessórios incluídos Os IE8 são dos in-ear com o maior conjunto de acessórios que testei até hoje, sendo que a maioria deles são pouco práticos. Apesar do grande número de tips fornecidas, nenhuma das tips tem um isolamento satisfatório para usar os IE8 em locais com barulho excessivo mantendo o volume reduzido. A caixa (não bolsa) de arrumação do in-ear tem uma boa arrumação e aspecto/construção cuidada, mas é pouco prática por ser rígida e ter dimensões pouco contidas. O modo de arrumação do in-ear, exige prática e tempo para todo o processo. O in-ear é colocado sempre na mesma posição, exigindo cuidados a enrolar o cabo de modo a evitar futuros danos. Para maior portabilidade, é aconselhável arranjar uma bolsa em tecido/pele para o transporte do in-ear. Dos acessórios fazem também parte: a ferramenta de limpeza do in-ear/tips, que no outro extremo funciona como chave para ajustar o nível de graves dos IE8; um par de guias over-ear, para guiar os cabos pela parte superior da orelha, e um clip para prender o cabo à roupa. As tips de silicone que funcionam melhor, no meu caso, são as Sennheiser single-flange (M e S) e as dual flange (M e S) fornecidas na embalagem. Muitas vezes é referido que as tips de silicone da Ultimate Ears e as Sony EP-EX10A (hybrid) funcionam melhor com os IE8, apenas testei as originais. Breve introdução aos Sennheiser IE8 Os Sennheiser IE8 são o modelo de referência da série IE da Sennheiser, destacando-se em relação aos outros modelos da mesma série, por ter um regulador do nível de graves, ou seja, é possível definir o nível de resposta de acordo com a nossa preferência, rodando um pequeno parafuso com uma chave incluída. O cabo é destacável, o que garante a manutenção do in-ear ao longo do tempo, permitindo também que se substitua o cabo original por outros cabos DIY (do it yourself) ou por outros modelos com melhores propriedades, de empresas dedicadas a este tipo de componentes de áudio. O regulador de graves dos IE8, cumprem a função para a qual foram dimensionados, até certo ponto. Refiro que o aumento de graves se situa a partir dos 50Hz e estende-se até aos 150Hz, aproximadamente. Cria-se um maior boom nesta gama, o chamado mid-bass hump, sendo que o IE8 são muitas vezes classificado como sendo boomy. Este último aspecto pode ser incomodativo quando se regula os IE8 para níveis elevados de graves, a utilização no valor mínimo é suficiente no meu caso e já se nota uma pequena sobreelevação. A sobreelevação é menos crítica nas gravações sem ênfase nos graves, mas quando se passa para música mais comercial, ou com muitos instrumentos sintetizados, de ritmo, torna-se inconveniente uma vez que a música fica com uma carga muito elevada de graves, sem chegarem ao extremo dos Fisher Audio Eterna V2 e dos Xears TD100III. Os Sennheiser surgiram originalmente em 2006 e mantém-se em comercialização até aos dias de hoje passados 5 anos, tendo sofrido cortes sucessivos no preço até chegarem ao preço actual de 200€, ou menos nos revendedores autorizados online. E ainda bem que se encontra ainda no mercado, pois as suas características permitem que ainda pertençam ao grupo de topo dos in-ear a um preço mais aceitável, quando comparados com a concorrência. Conforto/Isolamento/Qualidade de Construção A aparência escurecida dos IE8 é agradável e suficientemente discreta. Têm uma óptima qualidade de construção, tanto a shell como o cabo, apenas o conector não tem o tradicional tom dourado. O cabo é muito maleável, permitindo uma fácil arrumação e maneio sem termos de nos preocupar acerca da sua longevidade. O isolamento é razoável, cumpre a sua função em locais pouco movimentados, mas noutros locais, como transportes públicos, o isolamento é fraco. Este fraco isolamento deve-se tanto às tips, como também ao corpo do in-ear. A sua forma no ouvido não é a mais ergonómica, não permitindo um bom isolamento. Têm uma fixação razoável mantendo-se confortável por longos períodos de tempo. Ajustam-se bem em pessoas com pavilhão auricular pequeno, sendo que estas devem evitar os modelos universais da Earsonics, de maiores dimensões. A maior vantagem dos IE8, é que independentemente da posição que o utilizemos, a qualidade de som não varia de forma significativa, logo a qualidade sonora não é tão dependente das tips como noutros in-ear, o isolamento sim. Não dão uma sensação claustrofóbica como outros in-ear com um "isolamento apertado". Têm a vantagem de quando estamos a fazer algum tipo de trabalho, não nos sentirmos desconfortáveis e não nos distrairmos com a música, sendo que este último aspeto é uma das características da assinatura sonora que vou descrever mais à frente. Som – Impressões Fontes utilizadas: Sansa Clip+ , iPod Classic 120GB V2.0.1/Mac Características principais dos Sennheiser IE8 Presença de graves em quantidade, sem serem tão incomodativo como outros modelos de gama baixa. Sobrelevação nas frequências mais baixas (mid-bass hump), agudos com extensão e sparkl suave, não recuados e com resolução, médios com corpo e com o apoio dos graves, que adicionam um pouco de calor, a sua vantagem ou desvantagem vai depender da música. Apresentação sonora afastada do palco, grande palco sonoro, podendo dar a ideia de som mais congestionado, embora separado por camadas (muito dependente do leitor), boa profundidade de palco. Assinatura sonora não cansativa e sem grande variação, mesmo mudando de género, tornando-se um pouco “aborrecidos” com o passar do tempo. Ao mesmo tempo que fiz a análise dos IE8, fui comparando-os com os Earsonics SM2 e com os Panasonic HJE900, poderá haver algumas referencias adicionais a outros in-ear. Parâmetros Agressividade: Os agudos dos IE8 estão agradavelmente presentes, estão colocados mais à frente que nos SM2, têm contudo um sparkl mais suave, embora realístico (sem chegar ao desempenho dos SM2). Não são tão agressivos como os SM2 e ainda menos que os Panasonic HJE900. Nota sobre os HJE900: Os HJE900 (com espuma) têm definitivamente um sparkl bonito e com boa extensão. Existe alguma sibilância, atenuada com a espuma. Com a espuma o sparkl fica bonito, mas não é tão realístico como o dos IE8 e o dos SM2. Têm maior extensão de agudos que os SM2, e estão a par dos IE8. Ar: Os IE8 apesar de espaçosos, dão uma ideia de escuridão no espaço, apesar de as frequências mais altas se estenderem facilmente pelo espaço sem limite. Este problema pode advir do facto dos IE8 serem completamente fechados, sem abertura traseira para haver equilíbrio entre a parte anterior e posterior do driver, possivelmente para melhorar o isolamento do in-ear, sem grandes resultados, é certo (a maioria dos in-ear dispõe de uma abertura por mais pequena que seja). Por exemplo, os Victor FX500 são abertos, fazendo com que exista maior sensação de ar em todo o espectro, o mesmo deve acontecer com os FX700. Ambiente: Um dos pontos fortes dos IE8 e difícil de igualar por outros in-ear. O espaço melhora com a dimensão da sala. Para salas pequenas os SM2 são perfeitos, para grandes salas, os IE8 são imbatíveis, basta testar o Phantom of the Opera de Andrew Lloyd Webber. Quanto maior a orquestra, melhor o desempenho dos IE8, é um dos poucos in-ear em que é possível caber tanta informação sem ficarmos confusos. Neste aspeto justificam mais que o preço pedido. Conseguem reproduzir toda a informação sem ser de forma cansativa, mesmo com recurso a algum congestionamento, sem ser no sentido pejorativo. Analiticidade: Não são in-ears com carácter analítico, são antes bastante musicais. Conseguem fazer sobressair o detalhe em relação aos outros modelos clássicos da Sennheiser. O facto de terem uma apresentação espacial afastada da ação, dá a imagem de não ser o ouvinte ir de encontro ao detalhe, ele espalha-se no espaço e temos de estar atentos para recolher os pequenos detalhes, sem chegarmos ao chamado micro-detalhe, característica dos ultra-analíticos. Os in-ear baseados em balanced-armature na mesma gama de preço conseguem no global reproduzir mais detalhe, seja pela maior proximidade do palco, seja pelo seu cariz mais ”afiado” e assertivo. Os SM2 apesar de terem um som mais quente e cheio, conseguem transmitir melhor o detalhe na gama baixa e média, apenas falham na gama alta devido a esta ser mais recuada. Articulação: No nível mínimo de graves, os IE8 são articulados, sem serem agressivos, isto é, têm um decaimento muito natural e a separação entre as vozes e instrumentos funciona bem, apesar de a gama média não ser tão aberta como a dos SM2. De referir que é difícil que um in-ear dinâmico chegar ao nível dos IE8 neste aspeto, isto é, manter ao mesmo o tempo o corpo da voz e instrumentos, mantendo as pequenas nuances da voz. Os HJE900 parecem ser mais articulados, mas não conseguem ter as qualidades que referi. Exigia-se um pouco mais de articulação dos IE8 nas gamas mais baixas. Ataque: O ataque às notas é feito de forma suave, dando uma sonoridade muito relaxante e elegante. Por vezes poderá haver notas que se sobreponham, devido ao maior tempo de decaimento. Balanceamento: O som dos IE8 é no global balanceado (principalmente nas gravações sem ênfase nos graves), apesar do ligeiro ênfase nos graves (mesmo no nível mínimo). Os agudos não estão recuados no espaço, diria que estão bem posicionados ligeiramente chegados à frente para não faltar o detalhe, os médios completam o equilíbrio, não são recuados e sem corpo como nos HJE900, em todas as frequências do espectro dos IE8 existe corpo conjugado a uma grande musicalidade, o que faz dos IE8 um in-ear da gama de topo. No que refere ao balanceamento dos canais estéreo, são perfeitamente equilibrados, nos SM2 existe a ideia de guitarra à esquerda e bateria à direita, nos IE8 é difícil concentrarmo-nos nesta separação, na verdade, o foco é no conjunto e na fonte de onde é emitido o som. Graves: Existe um ênfase nos graves dos IE8, faz parte das características técnicas e quem os adquira será também com este objetivo, dado poder haver regulação dos mesmos. O nível de graves não é exagerado no nível mínimo, é inclusivamente mais reduzido que nos Eterna V2 e Xears TD100III. São graves com muita textura e tempo de decaimento realístico. Um bombo de bateria é realmente um bombo, é possível sentir a textura da pele. Com o tempo de burn-in vão-se tornando mais secos. Em músicas gravadas com ênfase nos graves, há o aumento de calor na gama média e menor resolução na mesma. Não são tão rápidos como os modelos BA, mas são mais intensos, realísticos, embora tenham uma articulação limitada. O regulador de nível dos graves atua com maior preponderância na gama dos 50-150Hz, não aumentando a extensão dos graves, mas provocando uma “bossa” de maior amplitude nessa zona e estende-se até aos 250Hz. Em níveis elevados, estraga a gama média tornando-a pouco resoluta, encoberta e sem separação. Imagem do espaço: Este teste, feito com Gadamaylin – i-Ching, demonstra que o IE8 são capazes de nos transpor para um espaço quase infinito, sem haver a reflexão de som. É possível ouvirmos o som da cidade/mercado por detrás da música de forma moderadamente transparente e detalhada, digo moderadamente, porque os SM2 e SM3 conseguem transmitir a informação de forma mais detalhada, mas num espaço mais limitado. Respiração: Devido à apresentação espacial dos IE8 ser mais afastada da ação, a respiração e preparação das vozes não é tão destacada, no entanto, nas gravações feitas próximas do microfone, os IE8 não sentem dificuldades em transmitir estes pormenores. Nos instrumentos de sopro os IE8 também não sentem qualquer dificuldade, são mais realísticos que os HJE900, existe a ideia de movimentação de ar em torno do instrumento e a transmissão do toque na madeira é feita por uma vibração agradável, dando a perceção de... um instrumento de madeira, com o timbre correto. Corpo: Os IE8 têm corpo em todas as frequências, mais corpo que qualquer in-ear analítico (dba-02, ER4P, q-Jays, etc.). Em concertos acústicos e em músicas com menos ritmo, conseguem processar a informação sem congestionamento excessivo, contudo sem darem demasiada importância ao detalhe, estão mais preocupados sim com o conteúdo harmónico. A única coisa que consigo ouvir de Heavy-Metal talvez seja AC/DC (corrijam-me se não o for) pensei que o resultado fosse pior. É verdade que a gama média fica um pouco congestionada, mas o sparkl é controlado, sem qualquer sibilância, as guitarras têm um som fabuloso e destaco o som vindo da bateria, com a textura devida. Definitivamente já não consigo ser fã dos in-ear analíticos por este mesmo aspeto, falta-lhes a força e energia que os IE8 ou qualquer outro triple-BA ou mesmo um double-BA (com driver dedicado para os graves capaz de transmitir a informação completa) conseguem transmitir. Brilho:A reprodução dos instrumentos de corda e de metais não têm um brilho acentuado, é até suavizado e não existe aspereza, isto é benéfico para audições prolongadas sem causarem grande cansaço. A claridade dos up-mids e dos agudos é um ponto que merece destaque nos ie8, uma vez que não são excessivamente enfatizados, evitando sibilância, mas mantendo a claridade. Transparência: Existe a perceção de profundidade (fator muito dependente do leitor), havendo uma boa separação dos intervenientes, tornando-se exemplares em grandes orquestras, uma vez que conseguem englobar todo o conjunto mantendo uma profundidade assinalável. Na música de teste da transparência, do álbum Open Your Ears, os IE8 conseguem transmitir o som de uma forma pura, com claridade sendo mesmo possível ouvir com clareza a distorção da guitarra em conjunto com a grande caixa vocal de John Hammond. Ritmo: Os IE8 conseguem transmitir todo o groove necessário e com alguma sensualidade inclusive (Hajji Baba), sem chegar ao extremos dos SM2, mas com mais energia. Profundidade de Palco: Tudo relacionado com o palco é excecional nos IE8, começando pela sua apresentação espacial única. Enquanto que nos Fisher Audio dba-02 temos a sensação de ouvir a música de dentro da orquestra para fora, nos IE8 é exatamente o oposto. O som é que vai ter connosco, mantendo uma noção de espaço irrepreensível. Vocais: Enquanto nos HJE900 as vozes soam de uma forma fina, sem grande mal para vozes femininas, em vozes masculinas o resultado é mau. Os IE8 conseguem transmitir o corpo e a força, mantendo a resolução sem sobreposição entre as várias vozes (The Persuations). Destaco a profundidade, projeção e o corpo, não tanto o detalhe. Coloração: Não faço ideia porque classificam os IE8 como pertencendo à gama profissional de in-ears, dado que existe alguma coloração ao longo do espectro, não é que seja má, traz riqueza ao som, mas não sei ao certo se serão os mais recomendados para o mercado profissional. A principal vantagem será que a música soará sempre de forma agradável sem transmissão de fadiga, o que na minha opinião é mais importante para o dia a dia. Têm de certo modo um arredondamento no som, é um som agradável sem extremos (“sweet”) pontiagudos, embora aborrecido e sem grandes variações. Destaques Pela Positiva: Quem pretende um modelo que faz tudo bem, capaz de reproduzir a música com fidelidade e de forma equilibrada em todas as frequências, tendo graves poderosos e com textura, gama média rica, agudos suaves, com bons níveis de detalhe, resolução, textura e com um palco de referência, os IE8 são uma boa opção. Também a considerar por aqueles que gostam da possibilidade de definir o nível de graves, de ter um cabo substituível e ter bom nível de conforto. Preço nos revendedores autorizados online acessível, mas ter cuidado com as contrafações. Procurar Outro Modelo Porque: Apesar de fazerem bem o que lhes é pedido, não se destacam em relação aos modelos da mesma gama, faltando-lhes alguma envolvência. O nível de isolamento é inferior à média, a bolsa não é prática para transporte do in-ear. Álbuns de Teste Open Your ears – Head-Fi/HDTracks Abbey Road (Remastered) – The Beatles The Phantom of the Opera - Andrew Lloyd Webber The Wall Live – Pink Floyd Liebermann Flute Concerto and works by Hue, Poulenc & Nielsen – Katherine Bryan Blues Dream – Bill Frisell Hands - Pepe Habichuela Referências: Site do fabricante: Sennheiser IE8 Preço: 180€-300€ (Amazon, Magnelusa, Agentes autorizados) Garantia do fabricante: 2 anos

Destaques

Pela Positiva:

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