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Análise a Shift 2: Unleashed

Ao longo dos anos, a serie Need for Speed, foi entrando lentamente em decadência. Para tentar meter esta série em bom caminho, foi tomada a decisão de a dividir em duas categorias diferentes: uma seria puramente Arcade ao bom velho estilo do Hot Pursuit e o outro seria um Simulador. Need for Speed: Shift foi a primeira tentativa por parte da Slighty Mad Studios de entrar no género da simulação (em consola). Após o seu sucesso, foi prometido que Shift 2 Unleashed iria elevar a simulação a patamares nunca vistos em consolas. Será que conseguiram?

Não é preciso muito tempo de jogo, para perceber a essência e o seu propósito. Ao contrário de outros jogos do género, as corridas em Shift 2: Unleashed são altamente carregadas de adrenalina, perigo e agressividade. Isso é conseguido através dos excelente efeitos sonoros dos travões e das suspensões a serem puxadas ao limite a quando de uma travagem brusca, do som dos embates e dos detritos a baterem no carro. O destaque vai para o rugido dos motores. Poderiam ser mais variados, mas mesmo assim, são dos melhores que ouvi. É daqueles jogos que pedem para serem jogados com o volume bem alto, tal é a qualidade dos seus efeitos. Já que estamos na parte sonora, as musicas presentes só são tocadas nos menus e nos replays. São cerca de 10 músicas de artistas bem conhecidos como 30 Seconds to Mars ou Stone Temple Pilots mas passado pouco tempo, acabam por fartar. É pena a falta de uma opção “Custom Soundtrack” na Playstation 3. Por outro lado, os possuidores da versão XBOX 360 não terão esse problema.

A maior parte do tempo será passada no Career Mode. Quem jogou Need for Speed: Shift, irá reparar que este modo em Shift 2 Unleashed é bastante familiar. A diferença é que as provas têm uma maior variedade e estão melhor estruturadas. Caso não gostem de alguma categoria, não são obrigados a faze-la para poder avançar na carreira. Drift, Time Attack, Endurance, Muscle Cars e FIA GT3 são alguns dos campeonatos que irão fazer. O objectivo final é ser campeão de FIA GT1. Para lá chegar, é preciso ter um determinado nível de piloto que vai aumentando à medida que ganhamos “XP”. Ultrapassagens limpas, voltas perfeitas ou corridas ganhas, atribuem uma quantidade de dinheiro e “XP”. É uma forma simples de progressão, mas bastante eficaz e no final de contas, recompensa o jogador. A nossa evolução é sempre visível e não necessita de um repetir de corridas apenas para poder ter acesso a determinada prova. É decididamente um ponto a seu favor.

De regresso, está o Autolog na sua versão 2.0. É mais completo que o presente no Hot Pursuit e consegue dar um maior numero de informação ao mesmo tempo. Sempre que fazem uma corrida, o tempo é comparado com o dos vossos amigos e podem recomendar esse evento. Também são informados dos troféus/achivements que eles desbloquearam e qual o nível de progressão efectuado no jogo. Embora mais completo, não o acho tão preciso no que toca a nível de comparação, pois ao contrário do Hot Pursuit, aqui há sempre o factor “setup”. Quem afinar melhor a maquina, terá sempre vantagem. Ainda assim, é uma excelente feature.

Como referido, para além de XP, ganhamos também dinheiro e não falta onde o gastar. Temos 120 bólides de varias marcas e com um leque bastante variado de estilos. O interessante é poder pegar na maior parte dos carros e fazer a alteração Works. Basicamente, esta alteração transforma um carro de produção num verdadeiro carro de corrida. Para tal, é preciso encher a barra de upgrade acima dos 75%. Praticamente toda a parte mecânica pode ser alterada, como por exemplo, caixa de velocidades, turbos, pneus, travões, redução de peso, etc. Aqui, Shift 2 Unleashed, apresenta uma enorme variedade de opções disponíveis. Afinal de contas, não se pode esperar menos de um auto-intitulado Simulador.

Já na costumização visual, não é assim tão bom. O numero de Liveries é baixo e são praticamente todos retirados de Need for Speed: Shift. Podemos fazer as nossas próprias Liveries, mas não ficam nada de especial. Os vinyls ficam desfocados e tentar acertar com o local certo, pode ser bastante frustrante. O resultado raramente compensa o esforço e paciência despendidos.

Assim que o Career Mode é completado, podem dedicar-se ao modo Online. Não é nada que não tenha sido visto anteriormente. Podem fazer um “Quick Match”, procurar algum evento especifico ou criar a vossa própria corrida. Podem escolher a pista, numero de voltas, dia ou noite, performance class e o tipo de veículos. Como disse, não é nada que não tenha sido visto noutros jogos. Contudo, devo destacar o “Driver Dual Championship”. É um modo onde dois pilotos se defrontam e o vencedor passa à ronda seguinte. No total, são seis rondas e tanto os veículos como as pistas são escolhidas aleatoriamente.

A nível gráfico, Shift 2 Unleashed fica atrás dos seus concorrentes directos. Os carros estão bem modelados e todos têm vista do cockpit detalhada. As corridas nocturnas dão a sensação de desastre eminente devido ao facto de não existir luz a não ser a dos faróis dos veículos. Se usarem a nova “Helmet Cam” em que vemos através dos olhos do piloto, conduzir à noite torna-se extremamente imersivo. Ver a sombra do nosso carro projectada à nossa frente ou nas laterais devido ao faróis dos outros carros, é um pormenor delicioso. Aliás, até acaba por ser agradavelmente desconcertante e acaba por ser um factor “pressão” pois vemos que os nossos adversários estão cada vez mais perto. As sombras dos carros, e de tudo o que lhes rodeia reagem dinamicamente aos focos de luz. As corridas diurnas, não são tão espectaculares, porque acabam por mostrar todos os defeitos “escondidos” nas corridas nocturnas. É comum ver algumas texturas fracas e cenários pouco trabalhados. De vez em quando, a frame rate torna-se algo instável mas não o suficiente para estragar a jogabilidade. Dada a qualidade visual do Forza 3, Gran Turismo 5 ou até mesmo do Need for Speed: Shift, esperava algo mais neste departamento. Mais algum tempo extra de polimento não faria mal nenhum. Ainda assim, a sensação de velocidade é bastante boa.

Em relação a pistas, existem 35 circuitos de todo o mundo, misturados entre pistas verdadeiras e fictícias e cada um apresenta algumas variantes. Os circuitos reais estão bem recriados e são imediatamente reconhecidos mas alguns aparentam ser demasiado largos. Ainda assim, apresentam um bom nível de realismo e de dificuldade. Infelizmente não foi implementado nenhum sistema de condições atmosféricas.

A nível de condução, Shift 2: Unleashed dá a hipótese de configurar todos os botões ao nosso gosto e até permite modificar a sensibilidade do acelerador, travão e as suas deadzones. Podem também alterar a dificuldade da Inteligência Artificial e retirar as ajudas. Jogar em Hard e com a condução em Elite é um desafio bom o suficiente para os mais hardore. Mas no geral, o jogo é bastante flexível e qualquer pessoa, independentemente do nível de perícia, consegue encontrar as suas configurações ideais. Contudo, devo salientar que o jogo sofre de um imput lag. Esse efeito é minimizado se jogarem com volante mas quem jogar com comando, vai certamente ter alguma dificuldade em fazer uma condução precisa. Mover-se no meio do pelotão sem tocar em ninguém ou fazer Drift pode ser muito complicado e não pelas melhores razões.

A Inteligência Artificial foi alvo de grandes melhoramentos e são mais humanos do que costumam ser em jogos do género. Para além de cometerem erros e terem acidentes de forma aleatória, na maior parte das vezes, têm a noção da nossa posição em pista e tentam evitar contacto. A IA adapta-se a cada corrida e é bastante agressiva, fazendo com que ganhar uma corrida mesmo em níveis de dificuldade mais baixa, possa não ser assim tão fácil. Mas, de vez em quando, a IA falha em perceber o nosso posicionamento e somos mandados para fora da pista. Uma coisa que não gostei foi o facto de qualquer toque num carro da IA, independentemente da força, faz com que o nosso carro se descontrole.

Mas o principal em ser um Simulador prende-se com física presente no jogo. Aqui, deparamos com alguma inconsistência. Os carros reagem a todas as irregularidades das pistas e sente-se o seu peso tanto nas acelerações como nas travagens. Já em curva, aparentam ter uma excessiva tendência em fugir de traseira sem razão aparente. Certas curvas rápidas tornam-se frustrantes porque não se sabe como evitar essa tendência, já que não é o carro a reagir a um excesso nosso, mas sim a física que não reage da melhor forma. Alguns carros dão a sensação de que pairam sobre a pista e parece que inclinam em demasia. Outro factor a contribuir para alguma falta de realismo tem a ver com a reacção do carro sempre que se vai com uma roda à relva. Simplesmente, não acontece nada independentemente da velocidade ou ajudas usadas. Também detectei que algumas alterações mecânica efectuadas não são tão notórias quanto deveriam, principalmente as efectuadas à caixa de velocidades.

Não se pode falar de realismo, sem se falar em danos. O sistema presente não é o melhor, mas oferece um bom numero de consequências visuais e mecânicas para os excessos cometidos. Ao longo da prova, o carro vai ficando sujo e riscado e larga detritos a quando de um embate. Pára-choques caídos e vidros estilhaçados são coisas frequentes de ver à beira da pista. A nível mecânico, podemos ficar sem rodas ou partir a suspensão. É o máximo que pode acontecer. Mesmo ficando sem uma roda, basta fazer reset ao carro e milagrosamente fica arranjado. A meu ver, isto estraga o factor realismo, mas deve ter sido a maneira arranjada de não o tornar frustrante pois não foi incluída uma opção “Rewind” ao estilo de Grid e muito menos, idas às boxes.

O numero de pistas foi aumentado assim como o numero de carros. A estrutura do Modo Carreira foi melhorada e há uma maior diversidade de competições. O som dos motores, as corridas nocturnas e a Helmet Cam tornam a experiência muito mais gratificante. Shift 2: Unleashed faz quase tudo bem, mas falha no essencial…a Simulação. A física dos carros é inconsistente e nem sempre é visível a consequência dos nossos excessos. Shift 2 Unleashed é o melhor jogo de condução em consolas no que toca a captar toda a essência das corridas, mas dada a inconsistência de qualidade em todos os departamentos, acaba por ser “apenas” um bom jogo de corridas e uma boa opção para quem já se fartou de Forza 3 e Gran Turismo 5. Mesmo com os seus defeitos e bugs, é fácil retirar divertimento do jogo. Quem gosta deste tipo de jogos, não ficará desiludido com Shift 2: Unleashed a não ser que espere que seja algo que não é.

Nota Final: 7/10

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