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Acordo entre nVidia e Intel

Notícia

Ontem foi anunciado que a Intel e a nVidia entraram em acordo, para acabar com o litígio que tinham uma contra a outra e também está previsto neste acordo a possibilidade de uso de patentes e tecnologias entre as duas.

A nível de dinheiro, a Intel vai pagar 1.5 mil milhões de dólares à nVidia, durante um período de 6 anos em “suaves prestações”.

As queixas apresentadas por parte das duas empresas em 2009, ficam sem efeito.

A nível de tecnologia e patentes, a nVidia tem acesso a algumas tecnologias dos processadores da Intel e o alongamento do licenciamento do Bus GTL (Front side bus) por mais 6 anos, mas não a uma licença x86, nem pode criar um processador que emule x86. Também não poderá criar futuros chipsets para intel, pois continua a não ter acesso ao bus QPI. Também não tem acesso a patentes de outras áreas da Intel, como memória flash.
Do lado da Intel, podem usar tecnologia e patentes dos GPUs da nVidia.

Se só estão interessados na notícia, podem ficar por aqui, porque é apenas isto.

Um pouco de história

Esta notícia não surgiu do nada. Há uma longa história por trás deste acordo.

Tudo começa em 2004, quando a nVidia e a Intel também chegaram a um acordo em que a Intel podia usar algumas patentes da nVidia, para continuar a poder desenvolver chipsets com gráfica integrada e do lado da nVidia, ficaram com a possibilidade de desenvolver chipsets para a plataforma Intel.
É neste ultimo ponto que está uma das controvérsias. A Intel diz que só licenciou o Front Side Bus e não o QPI usado recentemente e a nVidia diz que a Intel “jogou com as palavras” e que teria direito a criar chipsets para as novas plataformas da Intel.
Foi principalmente este ponto que deu inicio a uma guerra em tribunais entre as duas empresas em 2009, em que cada uma usou as suas patentes para atacar a outra.

No entanto a Intel tem um problema. A Intel é uma empresa gigante e com grandes quotas de mercado, nos sectores onde participa e com isso leva a que instituições que regulam os mercados, desconfiem das formas como a Intel age.
Devido a isto foram levantados dois processos. Um pela União Europeia, que levou a uma pena de 1.45 mil milhões de dólares, que está em apelo por parte da Intel e outro pela FTC (Federal Trade Commission) americana.
Na base destas investigações estavam, principalmente, queixas por parte da AMD e da nVidia. Isto foram investigações à parte das queixas feitas individualmente pela AMD e nVidia.
Em resumo, legalmente a Intel estava a ser acusada por todos os lados.

O “Sistema”

Além da história que tentei explicar, temos também que ter em conta como o “Sistema” funciona entre as diferentes empresas nos Estados Unidos, especialmente as grandes empresas.

No centro está uma palavra, chamada “patentes”. O objectivo das patentes é proteger os inventores. Isto é, um inventor regista uma patente, espera que seja aprovada e se for aprovada, fica defendido legalmente (caso não existam provas que o invento já teria sido criado anteriormente por outra pessoa) em tribunal contra cópias.

Isto é muito bonito no papel, mas não funciona. Não vou descrever ao pormenor os problemas, pois não é esse o intuito deste artigo, mas há poucas pessoas a rever as patentes em relação ao número de patentes apresentadas. Quase tudo pode ser patenteado, mesmo coisas genéricas ou que não fazem sentido, etc.

O maior problema entre empresas grandes, é que criam portfólios de patentes, que vão acumulando, para se defenderem ou atacarem outras empresas.
Imaginem o seguinte. O mercado é como se fosse uma “guerra fria”, em que cada empresa tem medo das outras empresas. Cada patente, é como se fosse um “bomba atómica”.
O mercado vive em desconfiança e sempre à espera de quem dispara o primeiro tiro. Quando esse tiro é disparado, começa uma “guerra nuclear” entre as diferentes partes, em que as armas são as patentes.

No entanto, apesar destas guerras habitualmente durarem algum tempo, normalmente a “guerra” não chega ao fim. O que costuma acontecer é que ao mesmo tempo iniciam-se negociações, que não são públicas, em que por fim chega-se a um acordo, com troca de patentes e/ou dinheiro.

É estranho como o mercado funciona e penso que muitas pessoas não concordam com todas estas novelas, pois na verdade os objectivos iniciais de protecção, são completamente distorcidos.

Este acordo visto do lado da Intel

Penso que o principal motivo para a Intel querer chegar a acordo com a nVidia é “calar” uma das vozes críticas da Intel, perante a União Europeia e a FTC.
Reparem que no ano passado, a Intel chegou a um acordo semelhante com a AMD, a outra voz crítica, pagando 1.25 mil milhões de dólares.
Com isto, chegam a acordo contra os dois grandes rivais.

Outra questão é o desenvolvimento de futuros GPUs integrados nos processadores da Intel.
A Intel tentou entrar no mercado de placas gráficas com uma arquitectura baseada em x86, apesar desse ponto não ser o mais importante, mas antes de lançar o produto, deixou-o cair e redireccionou essa arquitectura para o mercado de HPC (Computação de alta performance).
Também todos sabem que os GPUs integrados da Intel, nunca foram o seu forte e têm sido constantemente criticados.
Por isso, neste ponto a Intel está de mãos vazias e onde é que a Intel pode ir buscar tecnologia? Às patentes a que agora passa a ter acesso da nVidia.
Atenção, não espero que a Intel faça cópias dos GPUs da nVidia. Espero sim, que os GPUs da Intel sejam bem mais avançados, com a tecnologia ganha.

Fecha as portas à nVidia a um processador e emulação x86 e à criação de chipsets para a plataforma da Intel.

Em relação a dinheiro, apesar dos enormes pagamentos à União Europeia, AMD e nVidia, a Intel é uma empresa com tantos lucros, que esta quantidade de dinheiro não é propriamente alarmante.

No entanto, deixo uma questão. Porque é que uma empresa, que é mais de 10 vezes maior que a outra, tens 20 mil milhões de dólares no banco, não compra a rival (nVidia) que é avaliada em 11 mil milhões de dólares?
Reparem que a AMD comprou a ATI e a Intel podia fazer a mesma coisa com a nVidia.
A resposta talvez esteja em que chegar a acordo sai mais barato, que as filosofias das duas empresas não são compatíveis ou que quem regula os mercados, não deixariam que uma compra destas se efectuasse.

Este acordo visto do lado da nVidia

Há algo que salta à vista neste acordo, para a nVidia, o dinheiro. Não há como fugir, uma das grandes vantagens para a nVidia é a entrada de capital durante os próximos 6 anos.

Logo a seguir estão as patentes ganhas a nível de processadores. Isto porque a nVidia anunciou um processador genérico, baseado em ARM e muito possivelmente iria contra algumas patentes da Intel. Ou então pode-se ver de outro lado. Usar estas patentes para melhorar o “Project Denver“.

A nVidia também “ganhou” mais 6 anos a poder usar o bus GTL, mas aqui há algo que ainda não dá para compreender.
Este bus está praticamente morto do lado da Intel e por aí não há grandes ganhos. Será que a nVidia pretende usar este bus nos seus produtos, “Project Denver”, para ser mais preciso?

O que é que a nVidia perde? Não pode criar um processador x86, nem emular. Também não pode criar chipsets para as novas plataformas da Intel.
Mas será que isto são percas? Penso que não.
A divisão de chipsets da nVidia já estava morta e a própria nVidia afirma que não quer criar mais chipsets, tanto para plataformas Amd como Intel.
Em relação a processadores x86, a opinião que tenho é que a nVidia também nunca andou atrás de uma licença x86 e vai apostar tudo no ARM, por isso mesmo que pudessem fabricar processadores x86, por vários motivos, acho que a nVidia também não os iria fabricar.

Conclusão e Futuro

A nível do acordo, pelo menos neste momento parece que os dois lados estão contentes e que conseguiram os objectivos que queriam.
Apesar disso, à primeira vista, parece um melhor negócio para o lado da nVidia, pois ganham dinheiro, tecnologia e perdem algo em que já não estavam interessados.

A questão é que é difícil, a curto prazo, ter uma avaliação completa deste acordo e só o futuro nos dirá quem fica a ganhar.
Penso que quem ganhará, será o que mais rapidamente e de modo eficaz, traga para o mercado novos produtos que dêem grandes saltos tecnológicos e se aproveitar as tecnologias do concorrente, melhor ainda.

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